No passado domingo, em Redondo, assinalou-se a tradicional Noite de Reis, com os grupos de Cantadores e Cantadeiras como destaque.
Uma noite de «sentimento especial» para David Grave, responsável pelo Grupo de Cantadores de Redondo, em declarações a’ODigital, por uma «tradição popular», que mesmo que se «cante de norte a sul do país», a vila alentejana «tem as suas especificidades».
«Cantamos de forma diferente. Há quem cante ‘ao menino’, há quem cante ‘aos reis’ e aquilo que o grupo de cantadores tem feito é preservar esta tradição popular», acrescentou, dizendo ainda que «foram as associações que conseguiram perpetuar estas tradições».
Eventos estes que são promovidos pelo município que, «há muitos anos e em boa hora», decidiu «promovê-los» para «os manter vivos, mesmo passando por vários executivos».
Depois juntaram-se as Cantadeiras de Redondo «que entenderam que se devia dar um toque feminino» e os escuteiros, certamente para um “toque” mais juvenil. «É também uma parte da história mais recente, mas que também nos orgulha», vincou David Grave.
Com quase 50 anos de existência e 27 elementos ativos, o Grupo de Cantadores de Redondo aproveita estes dias para se juntar e cantar umas “modas”. Algo que, por vezes, se afigura difícil, «mas isso acontece em todo o lado».
«É verdade que nem sempre conseguimos congregar todos nas atuações. Temos as vidas profissionais, temos elementos que não vivem aqui e isso às vezes dificulta, mas conseguimos ter sempre presentes cerca de 20 elementos», destacou ainda.
Atualmente, o grupo centra-se no objetivo de «alargar, com gente mais jovem». Até há «alguns interessados», outros que «aderem», principalmente porque «todos temos um familiar ou um amigo que gostas de umas modas».
Para além disso, o Cante também ganhou outros contornos no panorama nacional e internacional nos últimos anos «com um conjunto de artistas que lhe tem dado um toque diferente e que facilmente entra no ouvido».
«Tudo isso chega aos mais novos e acho que o bichinho tem de ser criado logo desde o início», frisou, adicionando que «também tem a ver com as próprias entidades, que devem ter um conjunto de atividades dirigidas à educação».
«Por exemplo, pode ser introduzida nas atividades de enriquecimento curricular [AECs], mas não pode ser de qualquer maneira. O Cante não se pode transformar num outro tipo de musicalidade», vincou ainda David Grave.
O responsável pelo grupo realçou também que «não se pode dizer que isso é só responsabilidade dos grupos» e que «esses agentes são muito importantes».
«A própria comunidade tem de dar essa abertura, para que os grupos possam passar o Cante aos mais novos», complementou.
Ainda assim, o grupo tem crescido, mas não com mais novos. «O que é engraçado é que conseguimos congregar, nos últimos tempos, a gente menos jovem, isto é, malta com 50 anos, o que também é muito importante», afirmou.
Faixa etária esta que é também muito significativa na associação Cantadeiras de Redondo, segundo Cristina Dias, presidente da associação.
Com 11 anos de existência e 18 elementos ativos, o grupo de mulheres tem uma composição «mista», ou seja, «desde mulheres mais novas até mais velhas, dos 30 até aos 75 anos».
Esta variedade de gerações reflete-se «muitas vezes, até nos próprios trajes e na forma de estar enquanto grupo».
Mesmo assim, o sentimento em relação à Noite de Reis é o mesmo, «de tradição», em que as Cantadeiras «fazem questão de marcar presença».
«Faz parte da tradição de Redondo, como também faz parte da tradição das próprias cantadeiras, visto que foi neste dia, o Dia de Reis, que as Cantadeiras deram o primeiro passo para a sua constituição», denotou a presidente, acrescentando que «é duplamente gratificante».
Assim como os “homens”, também estas “vozes femininas” concordam que o rejuvenescimento dos grupos deve passar pela educação e pelas escolas.
«É uma situação que se tem de pensar muito bem. É um trabalho que está a ser feito noutras localidades e aqui Redondo também», disse, sublinhando que o município e as freguesias são as entidades «que mais dão esse apoio às associações».
Contudo, há um ponto que os diferencia, para além do género: O adufe.
Tradicionalmente beirão, este instrumento foi implementado no grupo pelos mais antigos e pelas pessoas daquela região que vinham trabalhar para o Alentejo.
«Vieram com o adufe, com que cantavam as suas saias, e alguns ficaram aqui em Redondo. Depois começámos a verificar que havia muitas saias cantadas e tocadas com o adufe e estamos a recuperar algumas modas nesse sentido», explicou Cristina Dias.
Fora do habitual do cante, o adufe «foi muito bem recebido até em Serpa, que acaba por ser um sítio mais purista», por ter sido o “líder” da candidatura a Património Imaterial da Humanidade.
«Até dizemos, em brincadeira, que é a nossa segunda casa e quando vamos lá, até nos pedem para tocar as saias com o adufe», destacou a presidente, dizendo ainda que «como temos pessoas novas no grupo, estamos sempre disponíveis para aprender coisas novas e tentamos, acima de tudo, ser diferenciadoras».