Com o anunciado Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pronto para injetar na economia portuguesa vários milhões de euros, surgem projetos em vários setores económicos e nesse sentido um grupo de 50 empresas e instituições públicas e privadas nacionais uniu-se num projeto direcionado para a sustentabilidade do setor da Pedra Natural.
O “Sustainable Stone By Portugal” pretende investir 53,8 milhões de euros no setor da Pedra Natural, sendo que para o Alentejo está destinado 25% deste valor.
“Construímos uma agenda mobilizadora que tem como objetivo valorizar a pedra natural e através da digitalização, da sustentabilidade, da redução da pegada de carbónica e de uma maior qualificação de recursos humanos no setor potenciar o trabalho mobilizador e agregador que já tem sido realizado no setor da pedra natural”, explicou a’ODigital.pt Marta Peres, do Cluster Portugal Mineral Resources, entidade gestora deste projeto.
O setor da Pedra Natural já realizou quatro projetos mobilizadores, “mas este tem uma ambição maior, tem um prazo maior, um consórcio maior e o investimento maior”, sublinhou.
Marta Peres especificou que “este investimento está distribuído por várias atividades a que chamámos de projetos piloto e posso dizer que destes 53,8M€ de investimento, 70% será para a investigação e desenvolvimento tecnológico, 20% será para o investimento produtivo das empresas, neste caso PME’s, 7% para a Qualificação Internacionalização e 3% para a qualificação de recursos humanos”.
“Estamos também empenhados em medir a pegada ecológica do setor”
Instada sobre os investimentos a realizar no âmbito do 70% para a investigação e desenvolvimento tecnológico a responsável disse que “todos estes projetos pilotos, que não lhe posso agora especificar por termos de confidencialidade e propriedade intelectual, mas têm a ver com novas tecnologias para toda a cadeia de valor da pedra natural”.
As novas tecnologias que o projeto prevê aplicar em toda a cadeia de valor, têm a ver com “o desenvolvimento de novos produtos muito baseados naquilo que se chama de economia circular, nomeadamente com o reaproveitamento de tudo que é considerado subproduto desta indústria”, disse Marta Peres que acrescentou ainda que “estamos também empenhados em medir a pegada ecológica do setor, tal como estamos empenhados naquilo que de chamam as tecnologias facilitadoras na área de digitalização e na área da sustentabilidade, ou seja, tentarmos ser mais verdes e cada vez atraímos mais jovens e pessoal qualificado e até não qualificado para o setor”.
“Só faz sentido haver projetos mobilizadores e para a competitividade, se forem as empresas a investir neles”
“Só faz sentido se os resultados e o impacto do projeto for nas empresas, nomeadamente nas PME’s”, pois, “neste caso a agenda é para mais um salto qualitativo no setor da pedra natural e para os fornecedores que são as empresas que desenvolvem tecnologia e software”, sublinhou Marta Peres, que frisou ainda que “só faz sentido haver projetos deste cariz mobilizadores e para a competitividade, se forem as empresas a investir neles porque, no fundo são as empresas que vão valorizar os resultados em termos económicos e neste caso estamos a falar da pedra natural que é eminentemente exportador”.
Deixou claro que “toda a lógica do projeto está feita para as necessidades e novos desafios do sector pedra natural, até porque é em Portugal que estão algumas das empresas mais inovadoras a nível europeu, muito por via também de projetos mobilizadores e da evolução tecnológica”, referindo também que “estamos entre os dez maiores produtores, transformadores e exportadores a nível mundial.”
“Não é ir contra o ambiente, contra o território que vamos mais longe”
Já sobre a competitividade do setor a nível internacional, a responsável disse-nos que “conseguimos ser competitivos porque conseguimos perceber que a tecnologia e o avanço tecnológico são essenciais. Conseguimos perceber que não é ir contra o ambiente, contra o território que vamos mais longe, pelo contrário, é respeitar as comunidades, o território, o ambiente que conseguimos perceber que nós sabemos fazer, temos a tecnologia, temos know how e conseguimos acrescentar valor a tudo o que é obra”.
Já sobre a repartição dos 53,8M€ pelo território nacional, foi-nos disto que “a maior fatia vai para o Centro (35%), pois é no centro que se concentra o maior número de empresas de pedra natural, depois logo a seguir vem o Alentejo (25%) e Lisboa e Norte estão iguais com 20%.”
“Não fomos nós que distribuímos o investimento para estas regiões”
Questionada sobre os critérios para a distribuição regional das verbas, Marta Peres explicou-nos que “não houve um critério único, porque estamos a falar do Cluster dos Recursos Minerais que foi quem coordenou um pouco a parceria e o único critério que houve foi a inclusão, ou seja, nós lançamos o desafio às empresas de pedra natural, às empresas de software e tecnologia nossas sócias, às universidades e politécnicos e às câmaras municipais e depois foi uma resposta a este desafio que deu resultado nesta distribuição, portanto, não fomos nós que distribuímos o investimento para estas regiões, foi ao contrário as regiões é que disseram estamos presentes”, referindo ainda que “foi um processo ao contrário, tudo foi muito inclusivo, quem teve ideias e projetos que tinham a lógica de competitividade para o setor da pedra natural disse presente e apresentaram os seus projetos e posso dizer que nem todos foram incluídos obviamente”.
O “Sustainable Stone By Portugal” assenta em 11 eixos de atuação, nomeadamente “ao nível das competências humanas, da logística, da produção aditiva, da robotização, da sustentabilidade, da digitalização, dos processos de cibersegurança, mas estamos também a falar de eixos como a inteligência artificial, o controlo de qualidade, de gestão colaborativa e de promoção de conhecimentos, portanto, todo este conjunto vai levar a que se dê um salto de competitividade gigantesco, que na realidade se o projeto for aprovado e se começar, queremos ter grandes impactos no sector.”
“Será criado um pólo de inovação em Porto de Mós”
Já sobre o facto de na lista de parceiros constar apenas uma autarquia, a de Porto de Mós, foi-nos explicado que “deve-se ao facto de ter sido realizado recentemente um protocolo entre o Cluster, a Assimagra e outra entidade com a Autarquia de Porto de Mós para se fazer um pólo de inovação naquela localidade e também por muitas empresas das mais inovadoras a nível europeu estarem lá assediadas”, mas deixou claro que “estamos em conversações com as outras autarquias que vão ter muita relevância neste projeto”.
“É nosso interesse que as autarquias estejam envolvidas e elas têm interesse em estar envolvidas, porque há regiões aqui em que o principal empregador é o setor da pedra natural, como é o caso da Zona dos Mármores (Estremoz, Vila Viçosa e Borba), e este projeto vai trazer certamente valor acrescentado às regiões”.
“É um investimento para o setor da pedra natural e não é para financiar outros setores, nem outras entidades”
Caso este projeto não seja aprovado no âmbito do PRR, Marta Peres Garante que “avançará na mesma, não com o investimento que está aqui preconizado, mas avançará, até porque estamos habituados a este tipo de projeto, já vamos no quarto projeto mobilizador, estamos agora a desenvolver o quarto que é o InovMineral 4.0., mas obviamente que os investimentos nunca passam dos 10 milhões ou 12 milhões de euros”, frisando que “o ‘Sustainable Stone By Portugal’ é uma agenda com coerência, é uma agenda para o setor, o dinheiro que a Europa vai gastar no setor é para o setor da pedra natural e não é para financiar outros setores, nem outras entidades ou outros negócios estrangeiros, ou seja, temos tudo para que seja aprovado, se não for aprovado obviamente que não vamos conseguir fazer tudo até 2025, mas vamos fazendo faseado”.
“O ‘Sustainable Stone By Portugal’ é de âmbito nacional e tem uma visão muito nacional”
Recentemente foi apresentado outro projeto deste índole e candidato ao PRR, o Stone Cast, pelo que, questionamos se não havia possibilidade de uma cooperação ou união dos dois projetos em prol do setor, tendo Marta Peres dito que “não posso adiantar muito, porque na realidade não consigo perceber ao que é que é o projeto [Stone Cast], mas posso dizer que houve alguma aproximação para integrar, mas penso que se o investimento desse projeto for para beneficiar as empresas e o setor da pedra natural e as regiões do Alentejo, temos todo o interesse numa fase posterior em integrar, agregar e trabalhar em conjunto, mas neste momento a única coisa que posso dizer é que houve aproximações, houve diálogo mas em algum momento se perdeu, porque o projeto é muito regional, muito focado no Alentejo e o ‘Sustainable Stone By Portugal’ é de âmbito nacional e tem uma visão muito nacional e o investimento, o incentivo que nós pedimos é para investir no setor da pedra natural e penso que por estes motivos não se terá sido conseguido uma inclusão, uma cooperação mas claro no futuro tudo pode acontecer”.
O “Sustainable Stone By Portugal” é um projeto liderado pela empresa “Solancis”, empresa que integra toda a cadeira de valor, tem a gestão do “Cluster dos Recursos Minerais” e integra 50 parceiros, entre associações, empresas de pedra natural, empresas de tecnologia e software, Entidades de Ensino Superior e entidades públicas.
De acordo ainda com a informação que nos foi prestada, este projeto tem como metas a criação de cerca de três centenas de postos de trabalho, aumentar para 10% a incorporação de materiais reciclados ou reutilizados nos procedimentos, aumentar para 11% de incorporação de energias renováveis nos processos de produção, reduzir em 0.3% as emissões de gases com efeito de estufa, editar mais de uma centena de publicações técnico-cientificas, aumentar para 30% o nível de qualificação do emprego, criar 43 novos produtos, serviços e/ou patentes, ter um volume de negócios associado aos novos produtos superior a 25M€, aumentar para 70% a intensidade de exportações das empresas do consórcio, entre outras metas que fazem parte deste projeto.