Quarta-feira, Setembro 11, 2024

Prémio para Projeto Almada “é passo em frente na valorização do património português”

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A investigadora principal do Projeto Almada, Milene Gil, projeto multidisciplinar dedicado ao estudo da pintura mural de Almada Negreiros, manifestou-se “muito feliz” com o Prémio Europa Nostra para o património cultural recentemente conquistado.

Para a equipa do projeto “é motivação para continuar”. “É mais um passo em frente na valorização do património cultural português, e na sua integração nas políticas europeias de conservação”, disse à Lusa a investigadora do Laboratório Hércules da Universidade de Évora.

O projeto “Almada – O desvendar da Arte da Pintura Mural de Almada Negreiros (1938-1956)” foi um dos quatro projetos portugueses distinguidos com os Prémios Europeus do Património Cultural Europa Nostra, a par do restauro dos tetos mudéjares da Sé Catedral do Funchal, da salvaguarda da técnica de pesca artesanal “Arte-Xávega”, e do percurso do arqueólogo Cláudio Torres.

Estes projetos estão entre os 30 vencedores de 21 países este ano selecionados pela organização não-governamental Europa Nostra, anunciados recentemente pelo Centro Nacional de Cultura (CNC), representante português na organização.

Iniciado em 2021, o Projeto Almada reúne uma equipa multidisciplinar para analisar em profundidade o legado de pintura mural do artista existente em Lisboa, distribuído por cinco núcleos, entre os quais as duas gares marítimas de Alcântara e da Rocha Conde d’Óbidos, “os mais emblemáticos em estudo”, segundo a responsável.

A equipa concorreu ao prémio sob o lema “Almada is for everyone anywhere” (“Almada é para todos, em qualquer lugar”), na categoria de sensibilização e interação com o público, sublinhando o objetivo de divulgar a obra do artista, “autor de um legado modernista do melhor que se fazia em Portugal e no estrangeiro”.

Na opinião de Milene Gil, a conquista de um Prémio Europa Nostra “é reconhecimento ao trabalho desenvolvido nos últimos dois anos […] no que respeita à divulgação e partilha de conhecimento a diferentes públicos-alvo”, e “a confirmação de que, cada vez mais, a investigação em ciências do património deve ser aberta e inclusiva”.

“Almada Negreiros deixou-nos uma herança cultural de alto nível artístico, que é de todos. Mas nem todos a conhecem. E se não a conhecem, como é que podem valorizá-la e protegê-la?”, questionou, recordando um dos motivos na origem do projeto – ter percebido que gerações mais novas desconhecem o artista.

Pintor, desenhador, romancista, poeta, dramaturgo, Almada Negreiros (1893-1970) destacou-se pelo seu contributo pluridisciplinar para o movimento modernista.

O projeto encontra-se agora “numa fase intensa de análise laboratorial para especificar e aprofundar os materiais empregues pelo artista e as formas de degradação, bem como as técnicas de pintura utilizadas por Almada Negreiros”, disse a conservadora e restauradora de pintura mural à Lusa.

“Quase todas as campanhas analíticas nos cinco núcleos pictóricos em estudo encontram-se concluídas. Resta-nos apenas analisar as primeiras pinturas murais”, de 1938, “na Igreja de Nossa Senhora de Fátima”, prevista para agosto, após a Jornada Mundial da Juventude.

Além destas pinturas – “menos conhecidas devido ao conjunto de vitrais extraordinário que realizou” para a igreja -, e das duas gares marítimas, o projeto abrange ainda os murais da sala de entrada do antigo edifício-sede do Diário de Notícias e da Escola Patrício Prazeres.

Milene Gil adiantou que a equipa irá realizar estudos comparativos com outros pintores contemporâneos de Almada, nomeadamente no Brasil, em setembro, “para melhor contextualizar a sua arte no panorama internacional”.

“Este património é português mas ultrapassa fronteiras”.

Os especialistas estão agora a analisar as ‘micro-recolhas’ não invasivas efetuadas nos locais, “para aprofundar alguns aspetos da técnica, dos materiais e do seu estado de conservação”, e os dados que conseguirem obter “vão ser extraordinariamente importantes para a futura salvaguarda das pinturas”.

O objetivo é “perceber os problemas existentes e fornecer um conhecimento essencial para a sua futura conservação”.

O projeto “tem ainda muito por fazer e compartilhar antes do término, em janeiro de 2025”, vincou Milene Gil.

O Projeto Almada conta com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e parcerias da Direção Geral do Património Cultural, do Instituto de História da Arte da Faculdade Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Administração do Porto de Lisboa.

A entrega dos Prémio Europa Nostra, financiados pelo programa Europa Criativa, realiza-se em Veneza, a 28 de setembro. Na altura serão anunciados os vencedores do Grande Prémio e do Prémio “Escolha do Público” (em votação ‘online’), que receberão 10.000 euros cada, e para os quais o Projeto Almada é candidato.

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