A Câmara Municipal de Viana do Alentejo apresentou, no sábado, 12 de abril, na Biblioteca Municipal, a terceira edição do FICO – Festival de Ilustração e Criatividade em Olaria, que irá decorrer entre 16 e 18 de maio.
O festival tem como propósito afirmar-se como um espaço de cruzamento entre tradição e inovação, através da valorização da olaria e do diálogo com as linguagens contemporâneas da ilustração e do design.
Criado em 2022, o FICO resulta da experiência de residências artísticas promovidas em anos anteriores. «A ideia do FICO é cruzar aquilo que é a tradição – os oleiros de Viana do Alentejo – com leituras contemporâneas da olaria», afirmou Eduardo Luciano, chefe de gabinete do presidente da Câmara Municipal.
«Convidámos ilustradores que, em muitos casos, nunca tinham ilustrado em olaria. Vieram aprender, pegaram em peças tradicionais e deram-lhes uma nova leitura através da decoração», explicou. A terceira edição do festival pretende aprofundar essa abordagem. «Queremos discutir o que é isto da tradição oleira quando só temos dois oleiros em Viana. O que é que podemos fazer para que a olaria não morra?»
Atualmente, a prática da olaria no concelho está concentrada em dois mestres – pai e filho. «Não temos a quem transmitir o conhecimento e o saber fazer. O objetivo é criar atração para que as novas gerações se interessem pela olaria tradicional», disse.
Nesse sentido, Eduardo Luciano defende um novo conceito: «Não queremos acabar com a olaria tradicional. Queremos “destradicionalizar” a olaria, que é uma coisa diferente. Queremos pegar na olaria tradicional, dar-lhe uma leitura contemporânea e ajudar a salvar aquilo que é um património único do concelho».
Para Eduardo Luciano, o festival não se esgota na valorização patrimonial. «Queremos que as pessoas venham a Viana, vejam uma peça e se interroguem: “Mas esta decoração é de cá?” Essa dúvida é saudável. O que nos interessa é esse ato de questionar. A tradição não é imutável. Pode e deve ser desafiada», afirmou.
A programação do FICO inclui oficinas práticas, exposições, conversas, apontamentos musicais e participação de oleiros locais e de outros pontos do país. «Tentamos que os concertos sejam diferentes dos das feiras tradicionais. Mais intimistas, com algumas ruturas», disse. O festival abre com o trio brasileiro Edu Miranda e encerra com os Cantadores do Alentejo.
Já a vice-presidente da Câmara Municipal, Paula Neves, destacou que o FICO se diferencia de outros eventos do concelho: «Este executivo resolveu criar algo novo, diferente. Apostámos no FICO porque acreditamos que traz outras novidades ao nosso território.»
«Não é só uma mostra. Pretendemos que as pessoas usem o barro, mexam no barro, pratiquem. Queremos promover a olaria de forma ativa», afirmou.
Paula Neves sublinhou ainda a vertente inclusiva e pedagógica da iniciativa. «É também uma forma de sensibilizar quem não está familiarizado com esta arte. Muitas pessoas não conhecem bem o que é a olaria, e nós queremos mostrar o que se faz de novo, o que vai além daquilo que era tradicional.»
Presente na apresentação, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Manuel Santos, destacou o valor do festival como produto turístico: «Aquilo que me cativou no FICO foi esta marca forte do artesanato como elemento identitário e a forma como isso se articula com o turismo no Alentejo.»
O responsável reconheceu o potencial do festival para atrair públicos diversificados: «Os turistas internacionais valorizam cada vez mais o local identitário. E estão também abertos ao diferente – uma versão de olaria menos utilitária, mais peça de autor. É como na gastronomia: a tradição está na base, mas há lugar para inovação.»
Para José Manuel Santos, o FICO é «uma lufada de ar fresco» e poderá crescer no futuro, através da atração de criadores internacionais: «O Turismo de Portugal tem programas para residências artísticas. O FICO pode integrar essa rede e reforçar o seu papel na promoção cultural e turística do Alentejo.»
A Câmara Municipal tem também em curso uma candidatura para a criação de um Centro de Interpretação da Olaria. «Será uma nova ferramenta, uma âncora para lançar outros projetos», afirmou Eduardo Luciano. «Estamos paulatinamente a apostar numa marca que pode ser diversa. A diversidade pode ser ela própria uma marca.»
Sobre o futuro do festival, Eduardo Luciano foi perentório: «O FICO foi uma experiência em 2022. Consolidou-se em 2023. Em 2024 sabemos que veio para ficar. Hoje, já ninguém perdoaria ao município se o festival deixasse de acontecer.»
O programa do FICO é o seguinte:
PROGRAMA
16 DE MAIO, SEXTA-FEIRA
- 18:00 – ABERTURA OFICIAL DO FICO
- 18:45 – INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
- 19:00 – BRUNO CRAMEZ
Apontamento musical - 19:00 – WORKSHOP RAKU*
Conformação das taças Chawan, modelado, fretes e acabamentos - 22:00 – EDU MIRANDA TRIO
Concerto
17 DE MAIO, SÁBADO
- 10:00 – POR VIANA COM OS URBAN SKETCHERS
Orientado por Gabriel Lagarto - 10:00 – WORKSHOP RAKU*
Enforma e chacota - 11:00 – ESCULTURA COLABORATIVA **
- 15:00 – OS ILUSTRADORES NA RODA
Workshop de Olaria orientado por Feliciano Agostinho - 16:00 – WORKSHOP RAKU*
Elaboração dos vidrados - 17:00 – ILUSTRAÇÃO DE PRATOS
Escolha de motivos “sketch” para um prato, ilustração de pratos pelos ilustradores convidados - 17:30 – PAINEL DE AZULEJOS
Montagem de painel com Mariana e a Miserável - 18:00 – FIGURAS DE BARRO
Com Gabriel Lagarto - 19:00 – MILTON GULLI
Concerto - 22:00 – TIAGO BETTENCOURT
Castelo – Alentejo Encantado
18 DE MAIO, DOMINGO
10:00 – WORKSHOP RAKU*
Desenformar e deslocação para o local de cozedura, decoração das peças e cozedura das peças pela técnica raku
15:00 – O FUTURO DO ARTESANATO
Conversa com ilustradores, oleiros e ceramistas
16:00 – CERÂMICA E NATUREZA: AZULEJOS INSPIRADOS PELAS PLANTAS DO ALENTEJO*
17:00 – PISAR O BARRO
Com o Mestre Oleiro Feliciano Agostinho
18:00 – WORKSHOP RAKU*
Desenformar todas as peças e apreciação dos resultados
18:30 – CANTADORES DO ALENTEJO
Concerto de encerramento do festival



















