É já sabido que Évora vai ser a Capital Europeia da Cultura em 2027, mas há investimentos que estão a gerar controvérsia, nomeadamente a construção do Pavilhão Multiusos.
Tendo de estar pronto no referido ano, a infraestrutura não terá o financiamento certo, à data de publicação desta notícia, pois está presente no processo de candidatura à referida efeméride.
A questão foi levantada por Ana Paula Amendoeira, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo, no V Encontro Nacional Universidade e Cultura, que teve lugar em Évora.
No seu discurso, começou por dizer que «um dos princípios de trabalho» que foram procurados na fase de construção «foi que se procurasse que todas as ações materiais, de infraestruturas, caíssem em edifícios que estivessem devolutos».
Ora, o pavilhão vai ser construído de raiz junto às Portas de Avis, e a contradição começa por aí: «Sempre houve a preocupação de que a candidatura não fosse contraditória com aquilo que orientava a própria candidatura».
«Não podemos estar a apelar para uma outra arte de existir, como é o slogan da candidatura, e, ao mesmo tempo, estarmos a prever construir fervorosamente novos edifícios com uma pegada muito maior do que aquela que seria desejável», referiu ainda a vice-presidente.
Contudo, e chegando à parte do financiamento, Ana Paula Amendoeira destacou mesmo o «risco», pela questão da «fonte» de tal montante, já que «são projetos que implicam muito investimento».
Mesmo que necessário para Évora e para a região, segundo a vice-presidente, dando conta também do «perder competitividade com outras cidades», culpou os «pouquíssimos meios» do Alentejo: «Acho que dificilmente conseguiremos ter meios para executar tudo aquilo que está aprovado».
«É pena, mas acho que não vamos conseguir. Uma das razões é a nossa natureza, da região. Somos 500 mil pessoas, temos um terço do território nacional. Elegemos apenas oito deputados em 235 e não temos nenhum peso político, ou pouquíssimo», atirou.
Porém, deixou ainda no ar que «algum financiamento vamos captar».
Por sua vez, António Costa da Silva, diretor financeiro da associação Évora_27, entidade responsável por toda a Capital Europeia da Cultura, questionado pelos jornalistas, vincou que o «o objetivo central é, em primeiro lugar, cumprir aquilo que está no Bid Book, que é o programa do projeto».
Assinalando que «nenhum projeto está excluído», o diretor financeiro frisou que a «materialização de alguns projetos», como o Pavilhão Multiusos, é da responsabilidade do «município de Évora».
Desta forma, confessou que «o projeto de conceção e execução foi contratado» e que o presidente da Câmara, Carlos Pinto de Sá, «tem referido que espera encontrar financiamento para o projeto».
Ainda assim, António Costa da Silva afirmou que «Évora vai ser Capital Europeia da Cultura de certeza absoluta», mesmo que esse investimento não se realize: «Não é por causa disso que a Capital Europeia da Cultura deixa de acontecer».
Disse ainda que todas as entidades envolvidas são «corresponsáveis» pelo financiamento e que a própria direção da associação está «empenhada em que todos os projetos possam ser executados, com mais ou menos recursos, mas que sejam efetivamente executados».
«Estamos a fazer o trabalho de casa todo direitinho, na nossa perspetiva, de procurar essas fontes de financiamento», acrescentou.
Revelou também que já está protocolado um financiamento de 15 milhões de euros, «numa primeira fase, que são faseados em três anos», com o Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC), via Ministério da Cultura.
Já Carlos Pinto de Sá, em declarações a’ODigital, admitiu que a proposta de financiamento foi apresentada «ao anterior Governo» e que, na altura, foi «garantido» para três projetos: O Pavilhão Multiusos, o Centro Nacional de Dança Contemporânea e a Casa dos Bonecos.
«O que é facto é que para nenhum destes investimentos foi identificada a fonte de financiamento», destacou.
Projetos estes que envolvem um conjunto de entidades, como o GEPAC e o Turismo de Portugal, assim como «fundos comunitários diretos» e a comunidade intermunicipais.
Mostrou-se também convencido que o «atual Governo via dar seguimento e cumprirá aquilo que foram os compromissos do anterior Governo», contudo, «neste momento, não há fonte de financiamento para isso».
Ainda assim, garantiu que a Câmara «está a trabalhar nestes projetos»: «Isso nada impede».
«Entendemos que o pavilhão multiusos devia ser lançado através de um processo de conceção e construção para ganhar tempo e entendemos fazer um estudo prévio, que permitisse garantir que, no concurso, não prevalecia apenas o preço, mas que a qualidade arquitetónica também tinha de estar presente», concluiu.