Sábado, Dezembro 7, 2024

Empreendedorismo Social e IPSS: Uma aliança necessária para o futuro de Portugal

A verdadeira mudança social só acontecerá quando inovação e tradição caminharem juntas, de mãos dadas.

No contexto atual, em que as questões sociais assumem uma relevância cada vez maior no debate público, é crucial que exploremos ao máximo as potencialidades que temos à disposição para enfrentar os desafios sociais em Portugal. Contudo, observamos uma preocupante desconexão entre dois atores fundamentais deste ecossistema: os empreendedores sociais e as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). Esta falta de sinergia entre inovação e tradição pode estar a limitar significativamente o impacto que poderíamos alcançar juntos.

O Ponto Cego da Inovação Social

Os empreendedores sociais têm emergido como protagonistas no cenário das soluções inovadoras para problemas sociais, promovendo disrupção e eficiência. São frequentemente referenciados pela sua capacidade de introduzir novas tecnologias, modelos de negócio sustentáveis e pela sua abordagem orientada para resultados. No entanto, é imperativo reconhecer que as IPSS, muitas vezes vistas como estruturas tradicionais, foram as pioneiras do empreendedorismo social em Portugal. Quando, ao longo das décadas, se depararam com necessidades sociais urgentes, estas organizações foram capazes de criar respostas eficazes e inovadoras, ainda que dentro de um quadro institucional mais clássico.

As IPSS acumulam um capital que os novos empreendedores sociais muitas vezes não possuem: uma base sólida de utentes, infraestruturas estabelecidas e uma profunda experiência no terreno. Estas instituições têm vindo a apoiar as comunidades há décadas, criando redes de confiança e estruturas de apoio que são insubstituíveis. No entanto, encontram-se frequentemente limitadas pela falta de recursos “frescos” e pela necessidade de incorporar inovação nas suas práticas.

Por outro lado, os empreendedores sociais trazem consigo uma nova energia, conhecimentos avançados e uma vontade de fazer diferente. Todavia, muitas vezes, falta-lhes precisamente aquilo que as IPSS têm em abundância: presença no terreno e a confiança das comunidades. Esta lacuna entre a inovação e a prática consolidada deveria ser vista, não como um obstáculo, mas como uma oportunidade para a criação de colaborações transformadoras.

O Perigo de uma Bolha Cognitiva

Há um perigo real em ficarmos absorvidos pela procura incessante da novidade, ao ponto de nos isolarmos numa bolha cognitiva. A inovação, por mais necessária que seja, não pode surgir em pleno isolamento. O verdadeiro progresso social ocorre na interseção de ideias e na colaboração entre diferentes mundos – o novo e o estabelecido. Afastarmo-nos das estruturas que já existem, em vez de as integrar nas novas soluções, é desperdiçar recursos valiosos e, pior ainda, enfraquecer o impacto que poderíamos alcançar em conjunto.

A verdade inescapável é que as IPSS foram, e continuam a ser, agentes de mudança. Em momentos críticos da nossa história, foram elas que empreenderam soluções quando ninguém mais o fazia. No entanto, para que possamos maximizar o impacto destas estruturas e garantir que continuam a ser relevantes e eficazes, é essencial que haja uma abertura ao diálogo, um desmantelamento de preconceitos e uma valorização mútua entre os empreendedores sociais e as IPSS.

A Necessidade Urgente de Colaboração

A proposta que aqui se coloca é clara: chegou o momento de ultrapassarmos as barreiras artificiais que separam a inovação da tradição e de construir alianças estratégicas. Em vez de nos concentrarmos nas nossas diferenças, deveríamos olhar para o que cada parte tem a oferecer e unir forças em prol de um objetivo comum: a criação de um impacto social significativo e sustentável.

A inovação, quando desvinculada do terreno, torna-se vazia. Da mesma forma, a tradição, sem a infusão de novas ideias, corre o risco de estagnar. A verdadeira revolução social em Portugal só será possível se a inovação e a tradição caminharem lado a lado, numa relação de colaboração e não de concorrência.

Este apelo à colaboração não é apenas uma sugestão estratégica, mas uma necessidade urgente. À medida que enfrentamos desafios sociais cada vez mais complexos e interligados, o futuro do impacto social em Portugal dependerá da nossa capacidade de trabalhar em conjunto, de valorizar tanto a experiência das IPSS como a inovação trazida pelos novos empreendedores sociais.

O caminho a seguir exige coragem para ultrapassar preconceitos e vontade de inovar de forma colaborativa. Está na hora de reconhecermos que o futuro do empreendedorismo social em Portugal não está só na criação de novas soluções, mas também na revitalização e ampliação das estruturas que já existem. Se formos capazes de unir forças, poderemos transformar o nosso país e, ao mesmo tempo, servir de exemplo para o resto do mundo.

O desafio é este: sejamos disruptivos, mas também colaborativos. Porque a verdadeira mudança social só acontecerá quando inovação e tradição caminhem juntas, de mãos dadas.

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