O norte de Portugal tem sido fustigado por incêndios de grandes dimensões nos últimos dias, sendo inclusive decretado “estado de calamidade” em alguns dos locais afetados.
Ainda assim, o Alentejo tem sido “esquecido” por estes flagelos por conta de um conjunto de ações e medidas destacadas a’ODigital pelo Comandante Regional de Emergência e Proteção Civil do Alentejo, José Ribeiro.
Comecemos pela preparação dos operacionais, que «envolve um conjunto de entidades», nomeadamente os corpos de bombeiros sapadores florestais e ainda a Guarda Nacional Republicana (GNR), através da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro.
Para além disso, há ainda um «conjunto de tarefas complexas que são tomadas de forma muito antecipada antes do início da campanha».
O comandante esclareceu que, neste momento, «teremos um total de cerca de 2 000 operacionais das várias entidades que contribuem a defesa da floresta contra incêndios».
Em relação a número de ocorrências, José Ribeiro revelou que foram registados, até ao dia 18 de setembro, 571 incêndios rurais e uma área ardida de 2 332 hectares: «São dados provisórios, mas são os dados que temos neste momento».
Números estes que acompanham os diferentes níveis «empenhamento operacional».
O período temporal onde estamos, de 1 de julho a 30 de setembro, representa o nível de empenhamento “Delta”, onde «temos o maior número de operacionais disponíveis e também em que o histórico de ocorrências de incêndios é mais elevada».
Há ainda outras áreas «que vão sendo executadas», mas que são da responsabilidade de outras entidades, nomeadamente «o trabalho da Guarda Nacional Republicana e também dos municípios».
Depois, há também um trabalho «muito relevante» que é o processo de «sensibilização da população» e que é feito por «várias entidades», sensibilizando «quer a população em geral, quer grupos específicos».
Programa “Aldeia Segura Pessoas Seguras”
Como programas destinados à prevenção de incêndios, José Ribeiro destacou o “Aldeia Segura Pessoas Seguras”.
«Visa capacitar as pessoas que habitam em locais de maior risco de incêndio, aglomerados ou freguesias, preparando essas pessoas para serem mais resilientes à passagem dos incêndios», explicou.
O comandante esclareceu também que, na região, há um conjunto de aglomerados «muito significativo» e «distribuído por toda a região».
Um programa que está implementado em 62 aglomerados no Alentejo, sendo que são 12 no Alentejo Central, seis no Alentejo Litoral, 40 no Alto Alentejo e quatro no Baixo Alentejo.
«Este é um programa que foi idealizado para locais de risco de incêndio rural e foi nesses locais que foi implementado», disse, dando o exemplo da zona de Almodôvar, que faz “fronteira” com a Serra do Caldeirão e a zona de Gavião.
«Não faria sentido estar a implementar este programa em aglomerados, freguesias ou lugares onde não há esse risco», vincou questionado acerca da pouca implementação na região.
O “Aldeia Segura Pessoas Seguras” poderá ser também «mais uma forma de trabalhar a componente da sensibilização e da informação pública».
Sensibilização
Neste tópico, o comandante foi perentório, já que as campanhas «realizadas ao longo dos anos, têm surtido efeito».
Uma visão que está «alinhadas» com a «redução consistente do número de ocorrências que temos tido, quer no país, quer em todas as regiões».
José Ribeiro exaltou que «há uma cada vez maior consciência e responsabilização para o uso do fogo e para um conjunto de práticas que podem provocar ignições» e que isso demonstra «uma sensibilidade maior por parte do cidadão».
Contudo, reforçou que «este processo não tem fim», pois «há a necessidade de continuar a sensibilizar todas as gerações, principalmente as novas, para estas questões».
Ordenamento do território
Uma linha que muito se fala na questão de prevenção ao incêndio, mas que o comandante destacou como «eficaz» no Alentejo.
Para esta afirmação, argumentou que a orografia e a ocupação do solo se tornam importantes, já que «são diferentes de outras zonas do país». Há também «uma atividade agrícola muito diferenciada».
«Tudo isto facilita. Toda essa organização e estruturação do território acaba por ter influência», acrescentou.
Ainda assim, estas “facilidades” não invalidam que «não possamos ter alguns pontos onde há a necessidade de melhorar».
«Eu diria que os pontos críticos estão identificados, ou seja, os pontos mais elevados, nomeadamente eu a zona da Serra de São Mamede e a zona de Almodôvar, por exemplo. São zonas de risco onde ainda há algum trabalho a fazer para fazermos o ordenamento do território, no que diz respeito ao povoamento do território», atirou.
Um trabalho que tem sido «feito», destacando o do Instituto da Conservação da Natureza.
«Nesses locais de maior risco, vai implementando um conjunto de infraestruturas, nomeadamente as faixas de gestão de combustível, que acabam por dar uma ajuda», esclareceu
«O Alentejo tem condições para ter grandes incêndios, como já teve no passado»
Passando para o presente, onde os incêndios têm sido vistos e revistos nos últimos dias à distância de um clique no botão “power” do comando da televisão.
Uma realidade, claro, também pode ocorrer no Alentejo: «Tem condições para ter grandes incêndios, como já teve no passado».
Para sustentar esta tese, José Ribeiro relembrou o ano de 2017, onde houve ocorrências de grandes dimensões no Alto Alentejo, e ainda em 2023 na zona de Odemira.
«O Alentejo tem, nalguns pontos, condições para que isso possa acontecer», acrescentou o comandante.
Alterações climáticas
Contudo, e onde a prevenção não consegue chegar, aclarou que há a questão das alterações climáticas.
«Não devemos perder de vista aquilo que são um conjunto de alterações ao nível do clima que temos vindo a assistir», disse, acrescentando que «acabam por potenciar que os incêndios tenham um comportamento mais violento e que possam dar origem a incêndios de maior dimensão».
Uma problemática de nível global que é «difícil de contornar» pelas populações e pelas corporações: «Aquilo que podemos fazer é adaptar-nos a essa nova realidade».
«É preparamos e alterarmos um conjunto de práticas e de modelos de intervenção para podermos ter sucesso nestas condições, que são sempre mais adversas», acrescentou.
Medidas de prevenção
Para terminar, José Ribeiro foi convidado a esclarecer o que um civil deve fazer em caso de incêndio rural.
Prontamente respondeu «ligar imediatamente 112», mas deu ainda algumas “dicas” para além desta.
Realçou que, previamente, é «importante, para quem está próximo de zonas rurais ou florestais, acautelar a proximidade espaço que se intermedeia entre a habitação e essas zonas florestais».
Uma medida que é popularmente conhecida como “limpar o terreno” e que serve para «evitar a propagação do incêndio para a habitação».
O comandante disse ainda que o popular que der o alerta deve «também ajudar no encaminhamento e na localização precisa do incêndio e ajudar os bombeiros nessa tarefa».
Assim como «manter tudo aquilo que são as vias de acesso ao incêndio desimpedidas» e também «proteger, naturalmente, os mais idosos e as crianças», concluiu.