Sexta-feira, Março 29, 2024

António Chainho antecipa derradeiro álbum em concerto em Reguengos de Monsaraz

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O músico e compositor António Chainho, 85 anos, estreia um novo espetáculo no próximo dia 28, no Auditório Municipal de Reguengos de Monsaraz, numa retrospetiva de carreira que antecipa o seu derradeiro álbum, “O Abraço da Guitarra”.

Em entrevista à agência Lusa, o guitarrista disse que o espetáculo será “uma retrospetiva da sua carreira” e acrescentou: “Vou homenagear aqueles que foram os meus professores através da rádio, nomeadamente os grandes guitarristas, [como] Armandinho, José Nunes, Jaime Santos, Francisco Carvalhinho, Domingos Camarinha”.

António Chainho começou a tocar no meio fadista, na década de 1960, terminado o serviço militar obrigatório, durante o qual deu a conhecer os seus dotes musicais, numa digressão pelo território de Moçambique.

“Vim da minha aldeia, S. Francisco da Serra [no concelho de Santiago do Cacém, Beja], para Lisboa, em finais do ano de 1965, para tocar no restaurante típico A Severa, no Bairro Alto”, recordou à Lusa o músico, que assinala esta data como o início da sua carreira artística.

Anteriormente, tinha tocado no café de seu pai, datando de 1960 o seu primeiro contacto com o meio fadista, numa taberna na praça do Chile, em Lisboa, quando se apresentou ao serviço militar na capital, para o qual entrou em 1961.

Neste espetáculo em Reguengos de Monsaraz, António Chainho vai ser acompanhado pelos músicos Ciro Bertini (baixo acústico), Miguel Silva (viola) e pelo quarteto de cordas Naked Lunch, constituído pelos músicos Francisco Ramos, Fernando Sá (violinos), João Paulo Gaspar (viola d’arco) e Tiago Rosa (violoncelo).

O espetáculo no palco alentejano “antecipa” o próximo álbum do guitarrista, “O Abraço da Guitarra”, a publicar neste primeiro trimestre, o último da sua carreira de cerca de 60 anos, como o músico garantiu à Lusa.

Chainho afirmou que está “em paz” consigo mesmo e “contente” com a carreira que teve a “sorte” de fazer o seu percurso artístico.

“Dei a volta ao mundo, toquei em todos os continentes, e acho que me sinto feliz”, disse à Lusa.

“Olhando para trás acho que tive a sorte de chegar aos 85 anos e gravar este disco”, afirmou, realçando que “nenhum guitarrista” de fado “gravou um disco depois dos 60 anos”, em nome próprio. “Foi difícil, mas eu consegui aos 85”.

Este novo álbum, além de temas originais de António Chainho, inclui a sua homenagem a compositores “célebres” da guitarra portuguesa como José Nunes, Francisco Carvalhinho, Armandinho e Raul Nery, e os “violas” com os quais partilhou o palco, como José Elmiro, Carlos Silva, Carlos Manuel Proença e Tiago Oliveira.

Neste álbum, além do quarteto de cordas Naked Lunch, que também o acompanha em concerto, participam como convidados os músicos Pedro Jóia, Marta Pereira da Costa, José Manuel Neto, por quem referiu a sua admiração, Marco Oliveira e Francisco Vaz, atualmente com 14 anos, jovem aluno do guitarrista, com quem começou a trabalhar há três anos, na sua escola de guitarra portuguesa em Santiago do Cacém.

No âmbito dos 85 anos do “embaixador da guitarra portuguesa”, como se referiu a Chainho a revista britânica Songlines, está prevista a edição de uma biografia sua, de autoria da jornalista Moema Silva, e de um livro de ficção, de autoria do escritor Afonso Cruz, inspirado no percurso e nas muitas histórias da vida de António Chainho.

Em 2023, o guitarrista fará uma digressão nacional, com passagem, em julho, pelo Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Do seu percurso discográfico Chainho realçou o álbum “Guitarra e Outras Mulheres”, que gravou com Teresa Salgueiro, Adriana Calcanhotto, Ana Sofia Varela e Elba Ramalho, entre outras intérpretes, e o que gravou com a Orquestra Filarmónica de Londres, sob a direção do maestro José Calvário, que lhe “abriu caminhos por todo o mundo”.

Chainho diz que está a viver “a terceira fase” da sua carreira.

“A primeira foi aquela em que acompanhei todos os fadistas, profissionais ou amadores, a segunda quando me liguei a dois intérpretes, durante cerca de 30 anos, Carlos do Carmo e Frei Hermano da Câmara, e, finalmente, a carreira como solista”.

Apontado como “um dos virtuosos da guitarra portuguesa” pela “Enciclopédia da Música em Portugal no século XX”, António Chainho acompanhou nomes como José Afonso, Rão Kyao, Gal Costa, Maria Bethânia, Saky Kubota, Hideco Tchokyba, Paco de Lucia e John Williams.

Em 2015, atuou no seu concelho natal, na igreja matriz, no âmbito do Festival Terras Sem Sombra, com o guitarrista alemão Jürgen Ruck, apresentando o programa “O Tempo e o Modo: Diálogos entre Guitarras”.

Da sua discografia, que se iniciou em 1975 com “Guitarradas”, fazem ainda parte os álbuns “Guitarra Portuguesa” (1977), “Ao vivo no CCB” (2003), com Marta Dias, “LisGoa” (2010), que contou com a participação de Natasha Lewis, Sonia Shirsat e Remo Fernandes, “Entre Amigos” (2012), com intérpretes como Camané, Ney Matogrosso e Fernando Alvim, e “Cumplicidades” (2015).

Este último álbum assinalou os 50 anos de carreira do músico, e conta com as participações de Paulo de Carvalho, Fernando Ribeiro, Hélder Moutinho, Pedro Abrunhosa, Paulo Flores, Filipa Pais, Ana Vieira e Vanessa da Mata.

Referindo-se à sua criação musical, o também compositor afirmou que reflete “mestiçagens, fruto dos contactos com as músicas do mundo”.

“Tenho procurado traçar novos caminhos para guitarra portuguesa”, assegura. E conclui: “A minha música reflete as muitas viagens que fiz, os músicos com quem contactei e com quem trabalhei. Procura o respirar as músicas do mundo”.

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