Domingo, Dezembro 8, 2024

Agricultores do Sul falam em “percentagem muito elevada” de mortes por língua azul

O presidente da ACOS – Associações de Agricultores do Sul argumentou que “a percentagem de mortes” de animais devido à língua azul “é muito elevada” e incentivou à notificação da mortandade para Portugal aceder a fundos comunitários.

“O senhor ministro [da Agricultura] queria [aceder] a um fundo em Bruxelas, tipo fundo de calamidade. Para isso, tem que ter notificações, portanto, é importante que os agricultores notifiquem”, disse o responsável associativo, Rui Garrido.

O presidente da ACOS, que falava à agência Lusa em Ourique, no distrito de Beja, à margem do 4.º Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva, realçou que o problema relacionado com a febre catarral ovina (FCO), também conhecida como doença da língua azul, é “muito grave”.

Desde “cedo”, pouco depois do surgimento do surto provocado pelo novo serotipo 3 da FCO, a Federação das Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), igualmente presidida por Rui Garrido, alertou o Governo que “a realidade no terreno não correspondia àquilo que era o conhecimento em Lisboa sobre o problema”.

“Muitos dos nossos agricultores, pensando que eventualmente podiam ter problemas nas suas explorações, que ficariam retidas dois meses, não notificavam o problema da língua azul e, portanto, aquilo que sabíamos que existia no terreno não correspondia àquilo que se pensava em Lisboa”, sublinhou.

O problema “avançou” e, “hoje em dia, até o senhor ministro admitiu que as mortes por língua azul já ultrapassarão os 51.000 casos”, mas são muito menos as mortes notificadas às autoridades, afirmou Rui Garrido.

“É importante que os agricultores notifiquem [as autoridades sobre as mortes de animais] para que possa vir ajuda” da União Europeia, mas também os apoios anunciados pelo Governo para a vacinação, notou o presidente da ACOS.

Na terça-feira, em Guimarães, no distrito de Braga, o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, disse que “há 51 mil animais, ovinos, que morreram, em dois milhões de efetivos, uma taxa de mortalidade de 2,5%”.

“Mas, certeza dos que morreram por língua azul, as notificações que recebemos são quatro mil”, continuou, apelando para a notificação das mortes devido à língua azul por parte dos produtores porque isso vai ajudar a que possa ser acionado o recurso a fundos europeus.

Em relação à ajuda de um milhão de euros anunciada pelo Governo para a vacinação contra a língua azul, Rui Garrido argumentou que “é curta”.

“Uma vacina custa cerca de três euros por ovelha. Ora, nós temos dois milhões e tal de ovelhas. Já não digo que as vacinemos todas, mas se só vacinássemos, por exemplo, uma milhão, estávamos a falar de três milhões de euros, pelo que há que ter em atenção que é preciso mais dinheiro para a vacina”, precisou.

Na segunda-feira, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) avançou que o surto de língua azul se agravou, com prejuízos acima de seis milhões de euros e sem capacidade para recolher os animais mortos devido à doença.

A febre catarral ovina é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afeta os ruminantes e não é transmissível a humanos, sendo a sua transmissão feita através de um mosquito, não afetando a qualidade da carne, do leite ou dos seus derivados que possam vir de animais infetados.

O Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva termina na sexta-feira e é uma organização conjunta da ACOS, da União dos Agrupamentos de Defesa Sanitária do Alentejo, das Cooperativas Agroalimentares de Espanha e a Federação dos Agrupamentos de Defesa Sanitária Ganadeira (FADSG).

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